a cidade pulsa,
como um coração depois do beijo.
os postes acendem tarde,
como quem demora a admitir que está sentindo.
as buzinas não me incomodam —
são testemunhas do que não sei nomear,
mas que cresce entre os edifícios
como uma planta que insiste
no cimento rachado.
o metrô passa,
mas fico na plataforma,
porque às vezes a espera
é o caminho mais certo para se chegar.
em cada janela acesa
há uma esperança pendurada,
como roupa recém-lavada
no varal da noite.
e mesmo quando o céu pesa
com o bafo quente do asfalto,
há algo em mim que não desiste,
uma ternura suada
correndo pelas avenidas.
não é sobre destino —
é sobre estar no lugar certo
com o coração aberto,
mesmo que tudo à volta
pareça trânsito.
e eu sigo,
entre o barulho dos freios
e o cheiro de pão das padarias
a te procurar
no que o mundo tem de mais vivo.
porque amar,
no fim,
é atravessar a cidade inteira
com os olhos cheios de chegada.