Ser professor no Brasil é mais do que uma profissão — é um ato contínuo de resistência, quase como remar contra uma correnteza que insiste em nos empurrar para trás. Em um país que historicamente negligencia a educação, escolher ensinar é desafiar o abandono com vocação. É acordar cedo, pegar transporte lotado, enfrentar escolas sem estrutura e, ainda assim, entrar em sala de aula com um sorriso no rosto e um plano de aula nas mãos.
É comum ouvir que o professor é a base de tudo. Mas é curioso como essa base vem sendo erodida pelo descaso. Baixos salários, falta de valorização, excesso de trabalho e violência em sala de aula fazem parte do cotidiano de milhares de educadores. Muitos acumulam turnos em diferentes escolas para pagar as contas, sacrificando saúde, tempo com a família e o próprio descanso.
Ainda assim, há algo quase mágico na profissão. É no olhar de um aluno que entende, finalmente, aquele conteúdo complicado, que o professor encontra combustível. É no bilhete deixado sobre a mesa, no "obrigado, professora", no reencontro anos depois com um ex-aluno que diz "você mudou minha vida", que reside a recompensa que o contracheque não entrega.
Ser professor no Brasil é trabalhar com o improviso. É transformar falta de recursos em criatividade, quadro branco em tela de possibilidades, aula expositiva em espaço de troca. É lidar com realidades difíceis — fome, violência, abandono — e tentar, por meio da educação, romper esses ciclos. É ensinar matemática, literatura e ciências, mas também cidadania, empatia e esperança.
É também viver sob o peso de uma sociedade que exige muito e apoia pouco. Quando há problemas na educação, culpa-se o professor. Quando há avanços, raramente se dá o devido mérito. No entanto, mesmo diante da crítica injusta, muitos seguem firmes, com uma fé quase poética no poder transformador do conhecimento.
Apesar de tudo, há orgulho. Orgulho em ver um aluno crescer, conquistar um diploma, mudar de realidade. Orgulho em fazer parte da formação de um ser humano. Orgulho em ser, apesar de tudo, professor. Porque, no fundo, quem ensina também aprende — aprende a ser resiliente, a ter paciência, a manter a esperança viva em meio ao caos.
Ser professor no Brasil é, apesar de parecer correr atrás de vento, resistir com amor. É plantar sementes sabendo que não vai colher os frutos, mas mesmo assim plantar. Porque a educação, ainda que esquecida por todos, segue sendo o único caminho possível. E quem escolhe esse caminho merece mais do que aplausos no dia do professor: merece respeito, apoio e reconhecimento todos os dias.